Épaules
domingo, 4 de dezembro de 2016
Vontade de chupar moluscos
sábado, 3 de dezembro de 2016
Veja só Eugênia
levantar bem alto braços
esticar feito gato preguiçoso no sol
clec e vértebra rearranjada
cresce dois centímetros
a respiração presa solta
torcer retorcer
punho calcanhar junta
rodar pescoço sobre ombros
subir um degrau porveiz
caminhar até o centro
passar a perna pelo balaústre
como quem monta cavalo ou seu homem
pra gozar por cima
seios pulando cabelos soltos
e saltar do alto do viaduto santa ifigenia com i
cantarolando adoniran barbosa
sábado, 26 de novembro de 2016
Sala de supervisão operacional
"talvez seja
a última vez
que vocês possam
estudar
literaturas africanas
tudo o que
é progressivo
vai desaparecer
entre bilhetes e trocos
a fala dela
me preocupa
assim como as
feridas brotando
e a coluna
que ontem parecia que
ia romper
mas não rompeu
só a vontade de
mandar a merda
o médico
ironizando a dor
nunca precisou
entregar atestado
e meu ódio de classe
me fazendo chorar
de raiva
na sala de espera
e hoje quase
chorei de novo
ela dizendo
deixei toddynho
pra você
na éssi éssi ó
temer calibre 16
eu chorei na vontade de fuder
de baixo do chuveiro e ele
me abraçou e pediu
calma
discutindo com um deus que não
existe e nem acredito
porque marxista e
não sei se subjetivo ou
expressão da conjuntura política
mas apontava um revólver pra
cabeça se tivesse um
revólver mas não
vou roubar o revólver do
meu tio que de paletó pediu
impeachment na paulista e
dar saída individual pra
toda essa dor
Frevo de suicídio
"Onde eu estava quando meus amigos tentavam se matar?"
onde meus
amigos estavam quando eu
tentava me matar?
ela me deu a resposta
simples todos
pensavam na morte eu
podia ouvir taxi
lunar se repetindo o
dia inteiro mas
já não consigo ensaiar os
passinhos do frevo ao
som de elba os
meus pés só sabem
agora se enrolar pra dormir
meio frontal já
é suficiente e pensei
se conseguiria me
matar segurando nos
fios de alta tensão do
muro do prédio vizinho da
casa dos meus pais onde
eu já não tenho cama pra mim
ou se eu vomitaria todos
os remédios antes de
eles pararem meu coração
Harakiri de Cortazar
vontade danada
de arrebentar a mandíbula
dividir em duas partes pra
ver se liberta sapo
peixe ou Coelho
que carrego escondido na
garganta
vontade danada de
martelar o esterno com
marreta ou bigorna
pra vomitar o que nem
com anti ácido quer
sair qualquer coisa
vomito ou diarreia
simular caganeira
faltar no serviço e
tomar soro expurgar
tal demônio na
região abdominal ou cortar
com espada feito
samurai Japones e
observar entra as vísceras esse
bicho teimoso que não
me deixa o ar e me
impede a mastigação
tentando minha morte por
suicídio ou inação
Jardins
afoguei cactos
matei de sede azaleias
mas nunca nunca deixei
secar bromélias na vã
esperança de nascerem sapinhos
do tamanho de polegares
as sementes de melancia cuspidas
no quintal não
nasceram mas se
adubam hortas com cascas de
mexerica e acordam
desejos o cheiro impregnado nos
dedos que a despe o
tempo de livrar-se do seu
perfume é o mesmo tempo
das estiagens em África
ou no nordeste brasileiro